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Neoplasias e o sistema Imune

  • Giulia Cioffi
  • 2 de dez. de 2017
  • 5 min de leitura

A gente sempre ouve falar sobre câncer, vacinas, viroses, mas é difícil ter esses 3 assuntos em uma só conversa, não? O objetivo aqui é te mostrar que, por incrível que pareça, esses 3 temas têm TUDO a ver. Vamos começar falando sobre como o nosso corpinho se defende dos inúmeros vírus que querem fazer das nossas células, o seu lar. Desde o ensino médio, ouvimos que os vírus são "parasitas intracelulares obrigatórios". Eu decorei isso, você provavelmente decorou mas o que talvez tenha faltado tanto para mim quanto para você foi entender essa frase!

Eu gosto de pensar que o vírus é como uma tartaruga e que o casco é a nossa célula. Não dá pra uma tartaruga viver sem seu casco, ou então para um vírus viver sem a nossa célula. Só que, da mesma forma que a tartaruga monopoliza o casco, os vírus costumam monopolizar as células, fazendo elas viverem em função dele.

Enfim, partindo do pressuposto que você já deu uma olhada nas outras postagens aqui do site, vou partir para o que nos interessa.

CÉLULAS RELACIONADAS A ATIVIDADE ANTIVIRAL.

Comecemos nossa história com o vírus dentro do nosso corpo. Nosso corpo vai responder ao ataque juntando os dois exércitos da nossa resposta imunológica: a imunidade inata e a imunidade adaptativa (lembrando que se deu aquele branco, nós temos um post falando sobre isso ). A resposta inata é ativada precocemente, sendo ela a encarregada de limitar e restringir a replicação viral.

As células dendríticas (DC) são uma das famosas células apresentadoras de antígeno. Assim, elas apresentam o antígeno ( que na nossa histórinha é o virus, ou um pedaço dele, ou um pedaço de uma proteína produzida por ele... enfim) para as céluas NK. Essas células NK costuma estar no sítio de infecção ou nos linfonodos. Assim, a NK entra na parada e começa a agir.

Como atua a NK?

A NK, por meio de seus receptores inibidores da destruição (KIR), reconhecm o MHC-I presente nas células do corpo ( se não lembra o que são os MHCs, cola aqui). Quando a célula está infectada, a expressão do MHC-I cai. Dessa maneira, a NK mata a célula do organismo, porque se tem menos, ela não identifica direito e pensa: se não tem o MHC que eu costumo ver, quer dizer que essa célula não faz parte do corpo. VOU MATAAAR!

Depois de um tempo, a resposta adaptativa entra na defesa. Só que a NK continua trabalhando coitada. Assim ela ajuda tanto a resposta inata quanto a adaptativa. Só pra não ficar solto, ela ajuda a adaptativa reconhecendo a porção Fc dos anticorpos. Esse mecanismo é chamado de citotoxidade dependente de anticorpos (ADCC).

Como atua o Sistema Complemento

A resposta adaptativa começa com os antígenos sendo reconhecidos pelos linfócitos Th, Tc e B.

obs: antes que vocês me ofendam, lembrem-se que estou partindo do pressuposto que vocês leram as outras publicações, então se tá ficando difícil lembrar todos esses conceitos dêem uma olhada nos artigos que já foram colocados aqui!

Como atua o Th:

Os antígenos virais capturados no exterior das células (exógenos) são unidos aos MHC-II e apresentados aos linfócitos Th, que dão aquela olhada, e então, junto com a molécula acessório CD4 ( que é a molécula que dá seu "apelido"), reconhecem. A partir disso, começa a produção de citocinas.

As citocinas produzidas em resposta ao antígeno pelo Th estimulam dois tipos de resposta:

Th1- RESPOSTA CELULAR

Th2- RESPOSTA HUMORAL

O tipo de antígenos é que vai definir se o Th vai se "transformar" em 1 ou 2.

Os Th1 secretam citocinas que estimulam a chamada resposta imune celular. Entre as citocinas que ele secreta, temos o INF- gama, que é o grande ativador de macrófagos.

Como atua o CD8:

Tanto antígenos que foram produzidos dentro das DCs, unidos ao MHC-I quanto os que estavam fora de qualquer célula, mas associados ao MHC-I, estimulam o Tc. Assim, Tc reconhece o MHC-I junto com a sua molécula acessória CD8, que também é a responsável pelo seu apelido.

Dessa forma, o Tc dá continuidade ao trabalho das NKs, fazendo a lise de forma mais eficaz. Assim, a principal função dos Tcs é DESTRUIR AS CÉLULAS INFECTADAS.

Eles são ativados, tornando-se CTLs. Então, eles se grudam a célula infectada, mata ela e vai atrás de outras células pra matar. Por conta desse comportamento, também são conhecidos como Serial Killer.

Tem muito mais aspectos envolvidos no ataque aos vírus, mas para darmos continuidade a nossa discussão, isso já é suficiente.

CONCEITO DE ANTÍGENOS TUMORAIS

A gente sabe que uma célula tumoral apresenta alguma coisa de diferente. Tanto que se não tivesse não causaria câncer né? Assim, o conceito de antígenos tumorais baseia-se na ideia de que a célula tumoral apresenta alguma diferença estrutural e que, essa "anormalidade", também chamada de antígeno tumoral, vai ser reconhecida pelo sistema imune. Assim, os Linfócitos T devem reconhecer os antígenos tumorais.

A mudança na célula pode levar a perda dos antígenos sanguíneos, a perder a capacidade de produzir muco e, em alguns casos, em adultos, são produzidas proteínas encontradas normalmente nos fetos, os chamados antígenos oncofetais.

Antígenos embrionários/ oncofetais:

Algumas células tumorais podem expressar os produtos de genes de desenvolvimento, que são desligados nas células adultas e são normalmente expressos no início da vida de um indivíduo. Exemplos incluem os tumores do trato gastrointestinal que produzem os antígenos carcinoembrionários (CEA), normalmente encontrados apenas no intestino fetal.

Enfim, os antígenos oncofetais são, de forma geral, maus imunógenos e não levam ao estabelecimento de imunidade protetora. Porém, sua importância é porque, se encontramos eles no sangue, é sinal de que tem algo errado, sendo bons para diagnóstico e monitoramento da progressão do tumor.

DIFERENÇAS ENTRE UM TUMOR VIRAL E UM TUMOR ENDÓGENO

Vários vírus têm mostrado potencial para induzir transformações malignas. Assim, há uma subdivisão entre neoplasias "estimuladas por vírus" e outras que ocorreram por algum problema endógeno.

Inicialmente, o sistema imune reconhece as células transformadas e recruta moléculas pró-inflamatórias, caracterizando o processo de eliminação. Em um segundo momento, as células tumorais selecionadas que não foram destruídas geram variantes que carregam mutações possibilitando a resistência. Segue-se uma fase de equilíbrio com o sistema imune, na qual coexistem as células de baixa imunogenicidade que compõem o tumor e as células e moléculas responsáveis pelo controle do crescimento das mesmas. Por fim, após esta seleção natural darwiniana, as células tumorais se desenvolvem agora em um ambiente virtualmente anérgico (fase de evasão).

Dessa maneira, uma neoplasia "causada" por um vírus, vai ter uma resposta imune igual à que temos em uma infecção viral. Já um câncer por causa endógenas vai ter a via clássica da ação imunológica, seguindo o caminho natural de processamento e apresentação de peptídeos na membrana plasmática celular por meio de moléculas de MHC de classe I.

É sempre bom lembrar que populações de indivíduos com perda da imunidade adaptativa celular, cujos principais exemplos são pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) e receptores de transplantes de órgãos sólidos submetidos à terapia imunossupressora crônica, têm claramente um risco maior de desenvolver neoplasias relacionadas a vírus, como carcinoma do colo do útero associado ao vírus do papiloma humano (HPV), linfomas associados ao vírus de Epstein-Barr (EBV) e sarcoma de Kaposi associado ao herpesvírus humano tipo 8 (HHV8).

Quanto a vacina do HPV:

Em busca de diminuir as neoplasias oriundas de alterações causadas pelo vírus do papiloma humano, foi criada uma vacina que se baseia na imunoterapia ativa, com o hospedeiro participando ativamente na montagem de uma resposta imune.

O HPV é composto por uma cápsula, tendo seu DNA no interior. A vacina consiste apenas na cápsula sem o DNA no interior. Assim, a vacina estimula a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV, tendo em vista que existe vários tipos de HPV e que a vacina apresenta proteção contra vários destes. Esses anticorpos existem por anos. Quando a pessoa vacinada entra em contato com o HPV, esses anticorpos inativam o vírus, impedindo que ele se multiplique.

É isso pessoal, entendendo com o sistema imune se comporta em uma infecção vira, entendemos como ele age em neoplasias virais. Qualquer coisa estamos aqui! :)


 
 
 

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