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Conceitos Chaves da Tolerância Imunológica

  • Giulia Cioffi
  • 28 de set. de 2017
  • 4 min de leitura

Tolerância imunológica é um assunto que a gente ouve falar desde o começo do curso mas que muitas vezes não entendemos realmente o que significa. Ela envolve inúmeros fatores e páginas dos livros para que possamos compreendê-la de fato! Então senta que lá vem história.

Pra tentar me ajudar e te ajudar,vou dividir esse assunto em conceitos que temos que fixar na nossa cabeça para então falar da tolerância.

Pra começar, vamos lembrar da ideia de expansão clonal. A gente tem que pensar sempre que o sistema imunológico está evoluindo junto com a nossa espécie, bem aquela ideia Darwiniana mesmo, de conforme a pressão do meio ter o mais forte sobrevivendo. No nosso caso a pressão do meio são as doenças e os mais fortes são os organismos com células capazes de atacar aquela doença. Com isso, seu papito e sua mamis te passaram um monte de células B, sendo que cada uma ataque um antígeno diferente. Essas células B são os chamados Clones (sim, são clones que não são idênticos entre sí…).

Aí quando você era uma criança de boa, que ficava assistindo Lagoa Azul tomando toddy e comendo bolacha, sua mãe foi lá e te chamou pra tomar vacina. Não vou ficar explicando sobre como a vacina funciona aqui (Ramiro já fez isso), mas o que importa é que aquele antígeno injetado em você chegou em algum órgão linfóide secundário gritando “coé rapaziada” e algum daqueles clones percebeu que ele foi feito para aquele antígeno. Nisso o amor nasceu: A célula B percebeu que ela finalmente encontrou o que tanto esperava e começou a fazer várias mitoses pra aumentar sua quantidade e, assim, poder ter várias células B para aquele antígeno. Isso é a expansão clonal: A célula B que estava em algum órgão linfático secundário “acorda” e começa a se multiplicar como resposta a um antígeno que ela consegue “matar”.

Sabendo que a gente tem um monte de células esperando o antígeno que a faça sair se multiplicando, é legal lembrar que tem mais elementos nessa ativação de linfócitos, que no caso envolve o famoso MHC. Novamente não vou ficar explicando sobre isso porque o Antônio já falou disso. Mas é essencial saber que o MHC é um conjunto de genes que tem como função codificar (lembra que o gene produz uma proteína e tals?) as moléculas que fazem aquela junção do antígeno com a célula para então desencadear a resposta imune. Essa junção é o que chamamos de histocompatibilidade e as moléculas são o que chamamos, nos “serumaninhos”, de Sistema HLA (Human Leukocyte Antigen). Quando o MHC é de classe I, ele codifica um grupo de moléculas, quando é de classe II codifica outro grupo e quando é de classe III não codifica HLA, mas outras coisitas (vê o texto do Antônio, namoralzinha).

Os HLAs, como são antígenos produzido por genes que são nosso maior exemplo de polimorfismo, são diferentes em cada pessoinha. Assim, eu tenho um grupo de HLAs que herdei dos meus pais. Já você tem outros e assim vai… Agora uma molécula que é específica de uma espécie, e que tem indivíduos da espécie que possuem e outros que não, lembra muito o nosso sistema ABO não? E tem motivo: os HLA são um ótimo exemplo de aloantígenos. Inclusive, na gravidez eles são ESSENCIAIS: Falando de um modo bem superficial, quando começa a gravidez, o corpo da mãe começa a perceber que tá tendo uma proliferação anormal de células alí no corpitcho dela. O que garante que o corpo dela não vai atacar o fetolino são os HLAs que o bebê herdou do pai. É meio difícil de entender, mas quando o pai tem HLA bem diferentes dos da mãe, a gravidez rola tranquila. Agora quando é parecido, como no caso de casamentos consanguíneos, o bebê deixa de ter aquela proteção. É como se quando os HLA são semelhantes, em vez de proteger o bebê, o HLA do pai ajudassem o corpo da mãe a atacar. Daí vem cerca de 15% dos abortos que ocorrem no primeiro trimestre de gestação.

Nessa história do antígeno ser reconhecido pelo anticorpo e tals, é importante falarmos das células T. Para ativá-las, além da ligação com o MHC, são necessárias moléculas presentes nas células T -essas moléculas são chamadas de co-estimulatórias- interagindo com as células que pegam os antígenos e levam até as células T, as chamadas APC.

A CD28 é a molécula co-estimulatória mais conhecida para Linfócitos T. Ela primeiro interage com as chamadas moléculas B7, presentes nas APC. Depois ela (CD28) participa da transdução de sinais, resultando em produção de IL-2, expansão clonal e aumento da sobrevida dos Linfócitos T.

A CTLA-4 é outra molécula co-estimulatória, só que com ação inibitória sobre os LT, induzindo sua apoptose.

Então resumindo: entre as moléculas co-estimulatórias temos como principais: CD28, B7 e CTLA-4.

E pra acabar, só tem uma coisa nesse mundo que dê mais "tilti" na cabeça do que imuno: NEURO! É o paraíso para algumas pessoas (como pra mim) e o inferno para outras. Faz sentido, já que, como inclusive eu já falei aqui no site, esses dois sistemas interagem constantemente. Assim, uma analogia que usamos muito é a da chamada “sinapse imunológica”! Ela nada mais é do que células do sistema imune se unindo pra passar algumas proteínas para uma região. Então, é como se a célula do sistema imune fosse a célula do sistema nervoso, e as proteínas que precisam ser passadas correspondem ao sinal elétrico, ou neurotransmissor, se preferir.

Juntando tudo isso que eu falei até agora, fica bem mais fácil entender a tolerância:

A tolerância se baseia em mecanismos que regulam todos esses conceitos apresentados. Fatores que prejudicam a tolerância:

1)Expansão clonal de um linfócito que resolve que o amor da vida dele é um antígeno do próprio corpo, os chamados HLA;

2)Um desequilíbrio que aumente a ativação de linfócitos T, exacerbando a sua resposta;

3)Um desequilíbrio que diminua a inibição dos Linfócitos T, deixando eles em maior quantidade no corpitcho;

4)Algumas sinapses imunológicas permanecerem latentes.

E por aí vai, Nas doenças autoimunes, observa-se perda da capacidade do sistema imunológico do indivíduo em distinguir o que é próprio (self) daquilo que não é próprio (non-self). Tolerância então nada mais é do que o corpo da gente regulando respostas exacerbadas dos conceitos aqui apresentados na busca de que não se ataque o próprio corpo.

Eu sei que é muita coisa e eu sei que vão surgir dúvidas. Então vou deixar um link aqui pra vocês mandarem. Aguardo o feedback de vocês, espero que seja positivo!

 
 
 

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